Dados de eficácia da vacina AstraZeneca em teste nos EUA são questionados.
A eficácia de 79% apresentada pela empresa nesta segunda-feira é referente a dados preliminares dos testes clínicos de meados de fevereiro
A AstraZeneca pode ter incluído “informações desatualizadas” ao divulgar a eficácia de sua vacina contra a Covid-19 observada nos testes clínicos desenvolvidos nos Estados Unidos, disseram autoridades federais norte-americanas de saúde nesta terça-feira, 23, em uma rixa pública incomum que pode minar ainda mais a confiança no imunizante naquele país. A empresa disse que deve apresentar os dados atualizados em 48 horas.
Apesar de já ter seu uso autorizado em toda a União Europeia e em diversos outros países, como o Brasil, a agência de drogas dos EUA, a FDA, ainda não aprovou a vacina feita pela farmacêutica com a Universidade de Oxford. Até então, não tinham sido divulgada a eficácia obtida nos testes clínicos de fase 3 feitos nos EUA, o que ocorreu nesta segunda-feira, 22.
A empresa anunciou que em estudo predominantemente americano com 32.000 voluntários, a vacina se mostrou 79% eficaz na prevenção de covid sintomática. Também enfatizou que não houve doenças graves ou hospitalizações entre os voluntários que receberam a vacina, em comparação com cinco casos entre aqueles que receberam placebo.
Mas pouco depois da meia-noite, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) americano divulgando uma nota de preocupação de que os dados divulgados fossem antigos.
A agência foi alertada pelo Comitê de Monitoramento da Segurança de Dados (DSMB, na sigla em inglês), um grupo independente, de 11 especialistas, ligado ao Niaid, que supervisiona o ensaio clínico. Eles informaram que a eficácia de 79% se referia a um resultado preliminar baseado em dados coletados até 17 de fevereiro.
Em resposta, a empresa disse que está trabalhando em informações mais atualizadas e que as descobertas mais recentes são consistentes com as anteriores. Também prometeu apresentar uma atualização dentro de 48 horas.
O infectologista Anthony Fauci, que dirige os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA – entre os quais está o Niaid – disse acreditar que houve um “erro acidental” do comunicado de imprensa da AstraZeneca, mas que pode criar dúvidas sobre o que “é muito provavelmente uma vacina muito boa”. Ele afirmou, em entrevista ao programa Good Morning America, da rede ABC, que os dados da vacina são “realmente muito bons, mas quando os colocaram no comunicado à imprensa, não eram totalmente precisos”.
Posteriormente, ao site Stat, Fauci disse que o fato de o DSMB ter percebido a discrepância foi um exemplo de salvaguarda em relação às vacinas. “Sentimos que não podíamos ficar em silêncio”, disse, sobre a carta do comitê independente. “Porque se permanecêssemos em silêncio, poderíamos ser acusados de acobertar algo. E definitivamente não queríamos estar nessa posição.”
Ainda assim, uma declaração pública questionando os dados da AstraZeneca foi considerada incomum por especialistas americanos.