Cidades de Minas não desistem de Sputnik V após BH ‘praticamente descartá-la’.
Cerca de cem cidades mineiras procuraram o consulado da Rússia para manifestar interesse em adquirir vacina
Em entrevista à rádio Super, nesta segunda-feira (29), o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, afirmou que a compra da vacina russa Sputnik V “está praticamente descartada”, já que os imunizantes chegariam à capital somente em setembro. Oficialmente, porém, a intenção de compra de 4 milhões de vacinas ainda está de pé, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que revelou a negociação neste mês. Outras prefeituras da região metropolitana que anunciaram ter intenção de adquirir a vacina também não descartam a compra.
A Prefeitura de Betim, por exemplo, mantém a previsão de que as doses negociadas cheguem à cidade até o dia 30 de abril — a cidade já entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para que as 1,2 milhão de doses não sejam requisitadas pelo Ministério da Saúde. A Prefeitura de Contagem não dá previsão de recebimento das 1,3 milhão de unidades que negocia.
Elas são algumas das cerca de cem cidades mineiras que entraram em contato com o consulado russo em Minas Gerais para tentar adquirir vacinas. O total de doses negociadas, segundo o consulado, é de 15 milhões de unidades, contudo não há data específica para a chegada delas.
De acordo com o consulado, o entendimento com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é o de que o total dos primeiros 2 milhões de doses contratadas chegaria em setembro ao município, com possibilidade de a importação de parte delas ser antecipada. “Entregas em setembro, diante da demanda mundial, são um adiantamento, atualmente, não um atraso”, diz o consulado por meio de nota.
Aprovação
A importação e a aplicação da Sputnik V pelos municípios não dependem da aprovação do uso emergencial da vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No início deste mês, a agência regulamentou o processo de importação de doses pelos governos e um dos critérios é que a opção seja aprovada por uma lista de entidades internacionais – é o caso da vacina russa. Ainda assim, qualquer importação ainda precisa ser avaliada e aprovada pela Anvisa. Após a formalização do pedido, a agência demanda sete dias úteis para avaliá-lo e pode requerer mais informações.
A aprovação do uso emergencial do imunizante para o Ministério da Saúde está suspensa. Na última semana, pela segunda vez, a União Química, que representa a fabricante russa no Brasil, entrou com o pedido na Anvisa, que, novamente, disse que faltam documentos para finalizar a análise. Mesmo com autorização para comprar as vacinas, os municípios só podem aplicá-las após aprovação da agência.
“Não é possível aplicar vacinas sem autorização prévia da Anvisa. Apenas as vacinas do consórcio Covax Facility contam com esta autorização prévia da agência, pois a Anvisa participou do processo de análise no âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, diz o órgão, em nota enviada à reportagem. A União Química foi procurada, mas não respondeu.
PBH negocia com outros fornecedores
O secretário de Saúde de BH afirma que negocia doses para vacinar cerca de 2 milhões de pessoas com outros fabricantes, além da Rússia. “Nós nos reunimos, de forma virtual, com os russos, da Sputnik, com os chineses, da Coronavac, com o pessoal da Janssen e, na última sexta-feira (26), tivemos reunião com a AstraZeneca, com possibilidade de compra para aceleramos processo e vacinação dos belo-horizontinos”, afirmou o médico Jackson Machado, nesta segunda. A prefeitura esclarece que aguarda posição das empresas sobre possíveis datas de avanço para divulgar a situação de cada possível acordo.
BH ainda não aderiu oficialmente ao consórcio para aquisição de imunizantes formado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), pois aguarda avaliação da Câmara Municipal. Já Betim e Contagem oficializaram a participação, assim como outras 383 cidades mineiras. Em todo o país, pelo menos 1.820 cidades se juntaram à iniciativa até agora.
GABRIEL RODRIGUES – O Tempo – Foto: ALEXANDER NEMENOV / AFP